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14.1- A chegada em Nova Iorque e o Nosso Novo Lar

Finalmente, após quase 2 anos de espera (o convite para trabalhar nos Estados Unidos foi formulado em outubro de 1975) a família completa (mulher, 3 filhos e eu) embarcava para Nova Iorque em junho de 1977. Havia, portanto, chegado o tão aguardado momento de iniciarmos nossa aventura de vida nos Estados Unidos. Uma enorme ansiedade e excitação envolviam todos nós, íamos para um novo país, costumes e cultura muito diferentes das nossas, as expectativas e as fantasias de como seria viver lá eram as mais variadas e muitas vezes ambivalentes. Como seria o apartamento que havia sido reservado para nós? Como funcionaria o hospital? Como seria o dia a dia? Haveria escola para as crianças? O local seria suficientemente seguro? Qual seria o custo de vida, teríamos condições de manter um padrão de vida digno para todos? Como nos comportaríamos em um meio ambiente totalmente estranho a nós, sem termos nenhum parente, amigo ou conhecido a quem recorrer em caso de necessidade? Eu me adaptaria a uma nova atividade totalmente diferente daquela que estava acostumado a desempenhar, pois ao invés de atuar como clínico, tarefa que me enchia de satisfação e me fazia sentir plenamente realizado, agora iria me transformar em um cientista devotado à pesquisa experimental, a bancada do laboratório passaria a ser meu consultório, isto me traria a mesma satisfação que a atividade clínica me proporcionava? Teria eu a suficiente competência para aprender as técnicas laboratoriais altamente sofisticadas que certamente seriam propostas? Teria eu a capacidade para readquirir as necessárias habilidades que havia aprendido nos primeiros anos do curso de Medicina, e que de há muito tempo não mais faziam parte das minhas práticas, para manusear os mais diversos equipamentos e materiais de um laboratório de investigação experimental? Tudo isto eram as incertezas que secretamente atormentavam meus pensamentos, as quais não podiam ser compartilhadas com ninguém, era um problema meu, só meu, eu é que havia me metido nesta potencial enrascada, portanto, cabia somente a mim solucionar ou não a questão. Enfim, as dúvidas e as incertezas eram incontáveis, porém a sorte já estava lançada, não havia mais possibilidade de recuar da decisão tomada, todas as pontes haviam sido destruídas. A partir de então era seguir em frente para desvendar o mistério e enfrentar o desconhecido da melhor forma possível. Foi o que tratamos de fazer ao longo de todo o período de vida nos Estados Unidos entre 1977 e 1978, e que será relatado a seguir.

A primeira e boa surpresa foi a localização do hospital e da moradia que nos havia sido reservada. O North Shore University Hospital está localizado no distrito de Manhasset, no condado de Nassau, em Long Island. Para que se tenha uma idéia mais precisa desta localização, a cidade de Nova Iorque está dividida em 5 distritos, a saber: Manhattan, Staten Island, Bronx, Brooklyn e Queens (Figura 1).

Figura 1- Mapa da cidade de Nova Iorque e o trajeto a ser trilhado entre nosso apartamento e Manhattan.

Figura 1- Mapa da cidade de Nova Iorque e o trajeto a ser trilhado entre nosso apartamento e Manhattan.

Figura 2- Mapa da região onde estão situados o hospital e o distrito de Manhasset. Pode-se observar o trajeto da LIE (495), bem como a Northern Boulevard e a linha férrea.

Figura 2- Mapa da região onde estão situados o hospital e o distrito de Manhasset. Pode-se observar o trajeto da LIE (495), bem como a Northern Boulevard e a linha férrea.

Figura 3- Vista aérea da região onde se localiza o hospital. Em A está a entrada para o estacionamento do apartamento, o círculo verde está sobre o hospital e o círculo vermelho sobre o prédio do nosso apartamento. Em frente ao hospital há um lindo campo de golfe.

Figura 3- Vista aérea da região onde se localiza o hospital. Em A está a entrada para o estacionamento do apartamento, o círculo verde está sobre o hospital e o círculo vermelho sobre o prédio do nosso apartamento. Em frente ao hospital há um lindo campo de golfe.

Os 2 últimos distritos de Nova Iorque encontram-se localizados em Long Island, aonde também se encontram os 2 aeroportos principais de Nova Iorque, JF Kennedy e La Guardia. O condado de Nassau está situado ao leste de Long Island e faz divisa com Queens, sendo que Manhasset dista cerca de 30 km de Manhattan. A ilha de Manhattan pode ser alcançada por carro pela Long Island Expressway ou por trem pela Long Island Railroad, cujo ponto inicial encontra-se no Madison Square Garden, em Manhattan, e o ponto final em Port Washington (Manhasset é a penúltima estação da linha férrea) (Figura 2).

Por sua vez, o apartamento que nos foi reservado encontrava-se no terreno do próprio hospital (na parte posterior do mesmo) em uma área de 6 prédios residenciais especialmente destinados para os médicos residentes e os “Fellows” que desempenham atividades profissionais de assistência e/ou pesquisa. Além disso, dispunha de uma lavanderia comunitária, salão de jogos e de festas, um amplo gramado com quadra de tênis, quadra esportiva multiuso e um pequeno “playground” para as crianças (Figuras 3-4-5- 6-7).

Figura 4- Juliana e Marina no jardim do conjunto de prédios tendo ao fundo o pequeno playground.

Figura 4- Juliana e Marina no jardim do conjunto de prédios tendo ao fundo o pequeno playground.

Figura 5- Uly em frente a porta de entrada do nosso prédio.

Figura 5- Uly em frente a porta de entrada do nosso prédio.

Figura 6- Uly e eu bem debaixo da janela do nosso apartamento durante o auge do inverno que foi extremamente severo e prolongado.

Figura 6- Uly e eu bem debaixo da janela do nosso apartamento durante o auge do inverno que foi extremamente severo e prolongado.

Figura 7- Uma visão do prédio onde morávamos e Uly se divertindo na neve com o seu trenó.

Figura 7- Uma visão do prédio onde morávamos e Uly se divertindo na neve com o seu trenó.

Mais ainda, o apartamento distava exatamente 100 metros da entrada do hospital, bastava apenas descer um lance de escadas, visto que o prédio estava situado numa colina atrás do hospital. Tratava-se de um apartamento de 2 dormitórios, banheiro, sala de estar, copa e cozinha, cujas dependências eram de tamanho absolutamente satisfatórios para uma experiência de vida temporária (Figuras 8-9-10-11-12-13).

Figura 8- A família reunida já totalmente adaptada à nova forma de vida.

Figura 8- A família reunida já totalmente adaptada à nova forma de vida.

Figura 9- Juliana e Uly assistindo televisão; este era um mecanismo muito útil para dominar o novo idioma.

Figura 9- Juliana e Uly assistindo televisão; este era um mecanismo muito útil para dominar o novo idioma.

Figura 10- Uly na sala de estar do apartamento e os aparelhos de som que à época eram altamente modernos e sofisticados. O Brasil estava sempre presente nas nossas lembranças.

Figura 10- Uly na sala de estar do apartamento e os aparelhos de som que à época eram altamente modernos e sofisticados. O Brasil estava sempre presente nas nossas lembranças.

Figura 11- Uly e Marina com minha mãe Walkyria e minha tia Yvonne, a visita tão esperada dos entes queridos.

Figura 11- Uly e Marina com minha mãe Walkyria e minha tia Yvonne, a visita tão esperada dos entes queridos.

Figura 12- As crianças desfrutando da visita da avó paterna.

Figura 12- As crianças desfrutando da visita da avó paterna.

Figura 13- Nossos filhos e seus amigos, um indiano e outro coreano.

Figura 13- Nossos filhos e seus amigos, um indiano e outro coreano.

Próximo ao hospital, seguindo um pouco mais adiante, descendo a avenida que se denomina Community Drive, distando não mais de 500 metros, havia um clube municipal, cuja frequência era gratuita, um pouco mais abaixo do clube havia um centro comercial, com várias lojas pequenas de comércio variado e uma grande loja de departamento denominada A&S (Figura 14-15).

Figura 14- Uly e Juliana no centro comercial próximo do nosso apartamento, em pleno verão.

Figura 14- Uly e Juliana no centro comercial próximo do nosso apartamento, em pleno verão.

Figura 15- Uly e Juliana em frente à loja de departamento A&S.

Figura 15- Uly e Juliana em frente à loja de departamento A&S.

Seguindo adiante e cruzando a Northern Boulevard havia um parque público denominado Whiteney-Pond Park (Figura 16- 17).

Figura 16- Marina no colo da Eurídice e Juliana ao fundo no Whiteney-Pond Park.

Figura 16- Marina no colo da Eurídice e Juliana ao fundo no Whiteney-Pond Park.

Figura 17- A família em passeio ao Whiteney-Pond Park.

Figura 17- A família em passeio ao Whiteney-Pond Park.

Isto posto, todas as condições logísticas e de conforto material estavam dadas para que eu pudesse desempenhar minhas funções a contento. E, como não se bastasse, nosso filho mais velho, por já ter completado 5 anos, pode ser matriculado na escola pública do distrito, com direito a transporte da própria escola e aulas de inglês suplementares para poder dominar o idioma. As meninas, por sua vez, tiveram que ser matriculadas em uma escola maternal privada. Assim sendo, como se pode depreender, rapidamente todas aquelas dúvidas e angústias que nos afligiam, na questão familiar, antes de viajar, quanto a desvendar o desconhecido foram rapidamente dissipadas. Mais ainda, descobrimos que estávamos vivendo em um microcosmos multiétnicos e multicultural porque nossos vizinhos eram na sua imensa maioria estrangeiros como nós, provenientes dos mais variados rincões do globo terrestre que para lá se aventuraram pelas mesmas razões que a mim me atraíram. Havia indianos, coreanos, argentinos, italianos, japoneses etc. e até mesmo outros brasileiros (Figuras 18- 19).

Figura 18- Uly e Juliana com seus amigos dos mais diversos países.

Figura 18- Uly e Juliana com seus amigos dos mais diversos países.

Figura 19- Juliana e sua grande amiga Ciara, filha de um casal de italianos.

Figura 19- Juliana e sua grande amiga Ciara, filha de um casal de italianos.

14.2- O Início das Minhas Atividades no North Shore University Hospital (NSUH)

O NSUH é um hospital de ensino afiliado à Cornell University e como tal possui um amplo programa de Residência Médica e de Especializações. Para poder manter esta afiliação, além das atividades docentes e de treinamento em serviço, tem também que desenvolver produção científica tanto clínica quanto experimental. Para atender este requisito determinado pela universidade o Departamento de Pediatria possui um laboratório de Pesquisa Experimental associado a um Centro de Microscopia Eletrônica (CME). Este laboratório, naqueles tempos (1977), era chefiado por Fima Lifshitz (Figura 20), com quem fui trabalhar e que também acumulava a chefia da Divisão de Endocrinologia e Nutrição, enquanto que o CME era chefiado pelo PhD Saul Teichberg (Figura 21).

Figura 20- Fima Lifshitz atendendo suas pacientes portadoras de Anorexia nervosa internadas no NSUH para tratamento. Era a primeira vez que eu via este tipo de doença.

Figura 20- Fima Lifshitz atendendo suas pacientes portadoras de Anorexia nervosa internadas no NSUH para tratamento. Era a primeira vez que eu via este tipo de doença.

Figura 21- Saul Teichberg em seu Centro de Microscopia Eletrônica.

Figura 21- Saul Teichberg em seu Centro de Microscopia Eletrônica.

Originalmente de acordo com as tratativas prévias acertadas com Fima minhas atividades de pesquisa experimental envolveriam ações em ambos os locais em decorrência da natureza do projeto de pesquisa desenvolvido conjuntamente entre eles e eu. Naquela ocasião estava em franca expansão o estudo da microflora bacteriana do trato digestivo, havia uma avalanche de trabalhos na literatura médica a respeito da microflora bacteriana normal desde o final dos anos 1960; também começavam a aparecer trabalhos evidenciando os efeitos nocivos sobre a mucosa do intestino delgado provocados por alterações desta mesma microflora. Como eu já havia realizado 2 trabalhos de investigação clínica estudando a microflora bacteriana do intestino delgado em pacientes portadores de diarreia aguda e crônica associados à desnutrição quando da minha especialização em Buenos-Aires, continuasse a fazê-lo na minha volta ao Brasil a partir de 1974 e, da mesma forma, Fima também havia publicado vários trabalhos similares em crianças mexicanas com as mesmas condições clínicas, nossos interesses científicos eram totalmente confluentes. Tratava-se agora de ampliar as fronteiras dos conhecimentos a respeito de outros possíveis efeitos prejudiciais à mucosa do intestino delgado causados pelo crescimento anormalmente elevado da microflora colônica nas porções altas do trato digestivo (em inglês o termo consagrado para esta alteração foi denominado de “bacterial overgrowth”), duodeno e jejuno, as quais em condições normais devem ser estéreis ou muito próximas disso (Figura 22).

Figura 23- A técnica da perfusão intestinal em ratos em pleno funcionamento. Quando voltei para o Brasil graças a uma bolsa de pesquisa que recebi da FAPESP pude comprar estas mesmas máquinas e realizar vários experimentos utilizando esta técnica, os quais se converteram em tese de Mestrado e Doutorado de alunos de pós-graduação por mim orientados.

Figura 23- A técnica da perfusão intestinal em ratos em pleno funcionamento. Quando voltei para o Brasil graças a uma bolsa de pesquisa que recebi da FAPESP pude comprar estas mesmas máquinas e realizar vários experimentos utilizando esta técnica, os quais se converteram em tese de Mestrado e Doutorado de alunos de pós-graduação por mim orientados.

Figura 22- Distribuição da microflora normal do trato digestivo.

Figura 22- Distribuição da microflora normal do trato digestivo.

O projeto de pesquisa elaborado apresentava-se, a meu ver, duplamente sofisticado porque em primeiro lugar envolvia uma técnica laboratorial sobre a qual eu não tinha o menor domínio, denominada perfusão intestinal em ratos (Figura 23) e, porque, em segundo lugar, adicionava mais um fator de complicação que dizia respeito ao estudo da morfologia intestinal utilizando a microscopia eletrônica de transmissão, ou seja, a biologia celular.

Teria eu que, por conseguinte, rapidamente desenvolver as competências para dominar concomitantemente as 2 novas habilidades, as quais eram técnicas que não tinham nada em comum, ambas extremamente trabalhosas, de execução que demandava muita paciência e tempo prolongado. Além disso, minhas tarefas teriam que estar necessariamente compreendidas entre 2 laboratórios funcional e fisicamente independentes entre si. Este era mais um grande desafio que se me apresentava, pois teria que me integrar com técnicas de laboratório e pessoas distintas, mas era esta a razão da minha vinda aos USA, portanto, não tinha do que me queixar, tinha que “pôr a mão na massa” de imediato e enfrentar os possíveis problemas vindouros, visto que todas as condições materiais e de infraestrutura estavam dadas. Mais ainda, tive a sorte grande de ter como professora, para dominar a técnica da perfusão intestinal e as determinações bioquímicas que o projeto exigia, uma figura encantadora com quem desenvolvi uma profunda relação de amizade a bióloga Mary Ann Bayne (Figuras 24-25).

Figura 24- A bióloga Mary Ann Bayne minha maestra e grande amiga para sempre.

Figura 24- A bióloga Mary Ann Bayne minha maestra e grande amiga para sempre.

Figura 25- Mary Ann pacientemente me ensinando a realizar o procedimento de preparo para o início da perfusão intestinal.

Figura 25- Mary Ann pacientemente me ensinando a realizar o procedimento de preparo para o início da perfusão intestinal.

Figura 26- Material de biópsia do intestino delgado normal de rato. Trata-se de um enterócito em cuja porção apical visualiza-se a região das microvilosidades, e, já no interior do citoplasma podem ser vistas diversas organelas, tais como: mitocôndrias, retículos endoplasmáticos com seus ribossomos acoplados, bem como corpos multivesiculares.

Figura 26- Material de biópsia do intestino delgado normal de rato. Trata-se de um enterócito em cuja porção apical visualiza-se a região das microvilosidades, e, já no interior do citoplasma podem ser vistas diversas organelas, tais como: mitocôndrias, retículos endoplasmáticos com seus ribossomos acoplados, bem como corpos multivesiculares.

Felizmente, no CME também tive a mesma sorte com Saul e sua assistente Dale. Saul logo que cheguei me deu um livro intitulado “Cells and Organels” para eu estudar e assim me familiarizar com a Biologia Celular (Figura 26), o qual devorei em curto espaço de tempo, enquanto ia aprendendo as delicadíssimas técnicas de inclusão do material para ser visualizado à microscopia eletrônica (Figura 27).

Além disso, também fui em seguida apresentado ao “monstro”, um microscópio eletrônico de transmissão de fabricação japonesa marca JEOL, equipamento de última geração, que eu teria que manusear para poder estudar as amostras de biópsias de intestino delgado dos ratos que eu submeteria à perfusão intestinal (Figuras 28-29).

Figura 27- Eu em plena atividade de preparo do material para visualização no microscópio eletrônico. Ao fundo vê-se a técnica Hyacinth Spencer uma jamaicana, pessoa admirável e de espírito altamente divertido, que também trabalhava no laboratório.

Figura 27- Eu em plena atividade de preparo do material para visualização no microscópio eletrônico. Ao fundo vê-se a técnica Hyacinth Spencer uma jamaicana, pessoa admirável e de espírito altamente divertido, que também trabalhava no laboratório.

Figura 28- Eu ao ser apresentado ao "monstro" no primeiro contato com a máquina que eu teria que manusear para poder produzir os trabalhos de pesquisa.

Figura 28- Eu ao ser apresentado ao “monstro” no primeiro contato com a máquina que eu teria que manusear para poder produzir os trabalhos de pesquisa.

Figura 29- O "monstro" sendo desmitificado, a esta altura eu já conseguia manuseá-lo com total intimidade.

Figura 29- O “monstro” sendo desmitificado, a esta altura eu já conseguia manuseá-lo com total intimidade.

Findo o treinamento que durou cerca de 45 dias estava pronto para dar início ao tão ambicionado projeto de pesquisa o qual se intitulou “Bile Salt-Enhanced Jejunal Macromolecular Absorption” (Sais Biliares Provocam Aumento da Absorção Jejunal de Macromoléculas).

Fazendo um breve parêntesis na atividade de investigação experimental, vale a pena referir que logo que cheguei ao NSUH fui apresentado ao chefe do Departamento de Pediatria Dr. Mervin Silverberg (Figura 30) que era Gastroenterologista Pediátrico.

Figura 30- Dr. Silverberg e eu muitos anos depois, em 1985, em um Congresso da nossa especialidade em Bruxelas, Bélgica. A amizade se tornou sólida e ele algumas vezes esteve aqui no Brasil a meu convite.

Figura 30- Dr. Silverberg e eu muitos anos depois, em 1985, em um Congresso da nossa especialidade em Bruxelas, Bélgica. A amizade se tornou sólida e ele algumas vezes esteve aqui no Brasil a meu convite.

Como ele se inteirou da minha formação clínica na especialidade, convidou-me a frequentar seu ambulatório o qual atendia 2 vezes por semana. Considerando que eu não queria me afastar da atividade clínica e que, com absoluta certeza, teria a oportunidade de incorporar alguns novos conhecimentos na área, senti-me honrado com o convite e de imediato me coloquei à disposição para desempenhar mais essa função durante minha estada no NSUH. Tendo em vista que ainda durante a realização da residência na Escola Paulista de Medicina eu houvesse prestado o exame denominado Educational Council for Foreign Medical Graduates que, na época, uma vez tendo sido aprovado dava a devida autorização para exercer a profissão de médico nos USA, eu havia sido aprovado, este certificado me dava o direito de atender pacientes de forma autônoma. Este foi mais um fator que me auxiliou no atendimento aos pacientes porque em breve tempo Silverberg passou-me plena responsabilidade para que eu desenvolvesse meu próprio ambulatório conjuntamente com o dele. Ao fim do expediente discutíamos os casos com muita camaradagem e esta foi uma tarefa que me acrescentou grandes conhecimentos, em especial sobre algumas doenças que eram raramente vistas em nosso meio naqueles anos. Ademais, também me ajudou a “matar as saudades” da vida de clínico. Além de tudo isso, esta atividade conjunta, serviu para construir uma sólida amizade com Dr. Silverberg, a qual se manteve por muitos anos depois que retornei ao Brasil.