Capítulo 1: Os primórdios do grande evento

Para que possamos chegar a agosto de 2008 é necessário retroceder no tempo mais de duas décadas. Na verdade, tudo começou em 1994 e da forma mais improvável que se possa imaginar. Naquele ano realizava-se o XI Congresso Latino-Americano de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição em Pediatria em Caracas, Venezuela, e eu, excepcionalmente, havia decidido não participar do mesmo porque, por várias razões, não queria me ausentar de São Paulo naquele momento. Tinha acabado de reformar minha casa, havia assumido inúmeros compromissos financeiros que precisavam ser honrados, por isso não queria ter gastos adicionais e nem me afastar do consultório por toda uma semana, posto que esta atividade profissional era minha principal fonte de renda. Entretanto, o presidente do Congresso, um grande amigo de longa data, Dr. Hans Rommer, me telefonou dizendo que minha presença era imprescindível, ele contava com a minha participação ativa, inclusive conseguiria pagar minha hospedagem. Após tanta insistência e por não querer desapontar um amigo querido decidi reconsiderar minha decisão e lá fui eu para Caracas. Ao chegar, como sempre, o encontro com outros colegas e amigos da América Latina me encheu de alegria e num arroubo de entusiasmo lancei a ideia de organizar o próximo Congresso em 1996, em São Paulo. Como era usualmente muito difícil encontrar algum candidato que se arvorasse a organizar o dito Congresso, por todas as dificuldades que isto implicava, principalmente pela barreira em buscar patrocínio financeiro junto à indústria farmacêutica, visto que nossa Sociedade, a Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição em Pediatria (LASPGHAN), não dispunha de fundos próprios para bancar tal empreitada, pensei que minha proposta seria imediatamente encampada pelos demais associados. Entretanto, para minha enorme surpresa, mal sabia eu que desta vez já havia 2 outros pretendentes que também estavam postulando a organização do próximo evento, um colega de Córdoba, Argentina e outro do Chile que pela primeira vez na história da nossa Sociedade propunha Santiago. Foi para mim um choque deparar com a existência destes outros 2 candidatos, tentei demovê-los da ideia invocando meus anos de dedicação à LASPGHAN sem nunca ter reivindicado qualquer postulação pessoal, mas meus argumentos foram totalmente em vão, ninguém aceitou retirar a candidatura, fomos então para a votação. Para minha satisfação ganhei por estreitíssima margem de votos (São Paulo 25, Córdoba 23, Santiago 22), mas suficiente para legitimar meu pleito. Logo ao regressar teria que dar início aos trabalhos de organizar o evento de 1996, pois a contagem contra o tempo se dá muito rapidamente, e eu não tinha sequer realizado o mais mínimo planejamento do mesmo. Tive que começar do zero, em primeiro lugar teria que definir o local e concomitantemente lançar-me em busca dos potenciais patrocinadores, que na nossa especialidade são fundamentalmente os da indústria alimentícia. Quanto ao local, para meu alívio, rapidamente consegui uma solução caseira e sem custos de aluguel. O reitor da UNIFESP, Prof. Hélio Egydio Nogueira, entendeu que a realização do evento era do total interesse da UNIFESP e, por esta razão, cedeu graciosamente os anfiteatros do Edifício Marcos Lindenberg, o que foi uma enorme e incalculável ajuda. Uma vez solucionado o problema do local agora teria que ir atrás do financiamento para trazer os palestrantes convidados e arcar com os custos da secretaria do evento. O caminho desta vez seria buscar o apoio da indústria farmacêutica, foi o que fiz, e deu certo, mas esta aventura vai ser contada um pouco mais adiante, pois antes disso, preciso relatar cronologicamente a sucessão dos inúmeros acontecimentos que direta ou indiretamente tiveram algum grau de influência significativa no desfecho da organização do XII Congresso Latino Americano de 1996, em São Paulo, o qual serviu de trampolim para a criação dos Congressos Mundiais da nossa especialidade, e, consequentemente o de Iguaçu 2008.